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A CONQUISTA DE CANAÃ


Textos encontrados em Deir Alla, no Líbano,
que mencionam o nome de 
"Balaão filho de Peor".

Os arqueólogos descobriram indícios eloquentes que testemunham a conquista de Canaã pelos israelitas. Certos elementos dizem respeito a cidades destruídas pelos israelitas. Outros, salientam a instalação de uma nova população. As descobertas arqueológicas colocam-nos diante de um certo número de problemas, mas confirmam, em geral, o relato bíblico.
Os israelitas aproximaram-se da terra prometida pelo lado Este. Rodearam Edom e Moabe, depois atravessaram de Este para Oeste o reino do rei de Siom, o amorreu, perto de Hesbom. Estudos arqueológicos revelaram que não existia praticamente nenhuma cidade ou aldeia na região de Edom e de Moabe na época em que os israelitas a atravessaram. À parte algumas pequenas colónias, este território era principalmente habitado pelas tribos nómadas que viriam a dar mais tarde os reinos edomita e moabita. Os “reinos” que Israel teve de enfrentar a Este não eram, portanto, povos bem estabelecidos. Mas eram suficientemente fortes para poderem recusar a passagem (Números 20).

Balaão, filho de Peor.
Depois de terem destruído Hesbom (uma cidade que ainda não foi encontrada, apesar de haver uma aldeia atual que tem esse nome), os israelitas estabeleceram o seu acampamento na planície do Moabe, do outro lado do Jordão, em frente de Jericó. Foi nessa altura que o rei de Moabe contratou o profeta Balaão, um homem de grande renome, para que maldissesse Israel (Números 22-24). O rei não recuou diante de um pesado investimento financeiro para mandar vir Balaão do norte da Mesopotâmia, mas foi em vão, pois ele não conseguiu pronunciar uma única maldição. Em vez disso, influenciado por Deus, ele abençoou o povo de Israel. Balaão é, com razão, considerado na Bíblia um grande profeta. Uma inscrição amonita, encontrada em Tel Deir Alla, no vale do Jordão, menciona o nome deste profeta. Essa inscrição data do 8º século antes da nossa era, o que salienta a fama do profeta. Alguns séculos depois da sua morte, não só os israelitas, mas também os moabitas, ainda o mencionavam. Embora originário do norte da Mesopotâmia, tudo leva a crer que Balaão foi conhecido durante séculos em todo o território da Síria e da Palestina.


As cidades de Jericó e de Ai.

As duas primeiras cidades que caíram nas mãos dos israelitas levantam um problema no plano arqueológico. Em Jericó, não resta praticamente qualquer vestígio de uma ocupação da cidade na época em que os israelitas a atacaram. A Bíblia relata que este lugar teria deixado de ser habitado até ao 9º século, quando Jericó foi reconstruída no reinado de Acab (1ª Reis 16:34). Podemos imaginar que os vestígios da antiga Jericó tenham estado expostos a uma forte erosão durante mais de 500 anos, provocando assim o desaparecimento da antiga cidade do tempo de Josué. As ruínas da muralha de grande espessura descoberta em Jericó são anteriores, em alguns séculos, a Josué.



Crânio encontrado em Jericó.

A segunda cidade conquistada por Josué foi Ai. Antes da época de Abraão, Ai era uma das grandes cidades, talvez mesmo a cidade mais importante da Palestina. Durante séculos, esta cidade esteve em ruínas (daí o seu nome, que significa “ruínas”) e, provavelmente, não era habitada quando os israelitas começaram a sua conquista de Canaã. Depois da invasão dos israelitas, uma pequena aldeia foi rapidamente construída no lugar de Ai. Certos arqueólogos situam a conquista de Canaã muito mais tarde. Pensam que a pequena colónia corresponde à cidade destruída por Josué. Esta hipótese apresenta demasiadas incoerências para ser levada a sério. Outros evocam uma confusão entre Ai e Betel, uma cidade vizinha.
Primeira fase da conquista.


Vestígios de um pequeno santuário em Ai.

Tanto os dados arqueológicos como os bíblicos parecem sugerir uma conquista do país em duas fases. Houve, inicialmente, alguns ataques-relâmpago no centro, para sul e para norte do país. Os exércitos foram vencidos mas as cidades não foram destruídas. Os israelitas não se instalaram nos territórios vencidos, mas voltaram para o seu quartel-general em Gilgal. Podemos fazer uma ideia desses ataques-surpresa ao lermos a história de Gideão que expulsa os Midianitas. A única cidade destruída durante esses raides foi Hazor, no extremo norte. Esta cidade, a maior da Palestina, era o centro da aliança dos reis cananeus que Israel teve de enfrentar. Não resta qualquer dúvida acerca da destruição total de Hazor. Mas esta cidade cananeia foi muito rapidamente reconstruída e a vida recomeçou aí até ela ser destruída de novo dois séculos mais tarde, provavelmente na altura da batalha comandada por Débora (Juízes 4 e 5). Depois disso, Hazor deixou de ser habitada pelos cananeus.


Segunda fase da conquista.

Moedas encontradas em Siquém.

A segunda fase da conquista dos país teve lugar depois de cada tribo israelita ter recebido a sua herança. As tribos dirigiram-se cada uma para o seu território e tentaram instalar-se nele. Quanto mais aumentava o seu poder, mais domínio e controlo tinham de região que lhes estava atribuída, até que os cananeus foram expulsos. Depois de ter terminar a primeira fase da sua conquista, os israelitas reuniram-se em Siquém, a norte de Jerusalém, a fim de aí renovarem a aliança. Jacob, o seu pai, tinha adquirido um campo nesta região. Um bom número de arqueólogos pensa que a população dos arredores era aparentada com os israelitas, vindos do Egitp. Isso explicaria a razão por que estes últimos iam logo que possível para esta zona. Ali encontravam, com efeito, os seus aliados naturais. Seja qual for a razão, a Bíblia não menciona nenhuma destruição da cidade pelos israelitas nem sequer uma batalha contra os seus habitantes. As escavações feitas em Siquém não revelaram qualquer vestígio de destruição. Muito pelo contrário, tudo leva a crer que esta cidade vivia em paz na época da conquista. Mais uma vez, as descobertas arqueológicas apoiam e confirmam os dados bíblicos.
No momento do grande encontro do povo de Israel, seis tribos reuniram-se nas encostas do monte Gerizim (a sul da cidade) e repetiram as bênçãos ligadas à aliança. As outras seis tribos tinham ocupado o monte Ebal (a norte de Siquém) e recitavam as maldições. Desse modo, eles recordavam a solene aliança feita com Deus quarenta anos antes no Sinai.
As cartas de Tell El Amarna.


Carta encontrada em Tell El Amarna. Contém um pedido
contra os "habirus".


No inicio do século 20, foram descobertas no Egito, perto de Amarna, placas de argila muito interessantes, datadas do século 14 antes da nossa era. Amarna era a capital do rei herético Akenaton. Estes textos, chamados as cartas de Amarna, provinham de reis e funcionários da cidades-estados da Palestina e da Síria e eram dirigidas ao faraó do Egipto. Essas cartas ilustram perfeitamente a situação na Palestina e da Síria e eram dirigidas ao faraó do Egito. Essas cartas ilustram perfeitamente a situação na Palestina na época da conquista do país pelos israelitas. No entanto, o nome de Israel, que, segundo a cronologia bíblica, tinha começado, nesse momento, a segunda fase da conquista, não é mencionado. Mas é citado um outro nome: os habirus, palavra que se assemelha bastante à palavra “hebreus”. Nestes textos, a designação habiru indica muitas vezes um grupo étnico que não pertencia à população local dessas cidades-estados. Transmite a ideia de rebeldes e de pessoas sem raízes, que erravam pela região, e que representavam um perigo real para a paz. Não se trata, portanto, de um termo que indique uma nacionalidade, mas sim um estatuto social.


2ª carta encontrada em
Tell El Amarna.


O uso deste nome corresponde ao uso, feito no Velho Testamento, da designação “hebreus”. Este nome só era utilizado quando se mencionava um israelita que tinha mantido contactos com as pessoas da cidade ou com membros de uma sociedade bem estabelecida. É muito provável que, inicialmente, o nome “hebreu” se relacionasse com o estatuo social dos israelitas no momento em que penetraram em Canaã pela primeira vez. Talvez outros grupos tenham recebido o mesmo nome, mas os israelitas representavam o grupo mais importante e cujo êxito era evidente. Por conseguinte, não é de estranhar que o rótulo “Hebreus” lhes tenha ficado associado.
É, portanto, muito difícil afirmar, com uma certeza absoluta, que os israelitas foram realmente os habirus mencionados nas cartas de Tell El Amarna. É provável que se tratasse de vários grupos, entre os quais os israelitas. Resta-nos salientar que o rei cananeu que mais vezes é chamado “habiru” (quando escreviam ao faraó, os diferentes reis não hesitavam em insultar-se uns aos outros, e “habiru” fazia parte deste vocabulário) é precisamente o rei de Siquém. Parece que era ele que, com mais frequência, manifestava um comportamento rebelde. Mas se nada prova que os israelitas o tenham apoiado nessa sua rebelião, temos de reconhecer que essa hipótese é atraente, quando comparamos o relato bíblico com as indicações que a arqueologia nos fornece.
A arqueologia não fornece grande quantidade de informação a respeito da época do Êxodo e da conquista de Canaã. Mas nos casos em que há paralelos, em geral o texto bíblico é confirmado. Mantém-se certas interrogações, mas na maioria dos casos as respostas aprecem e contribuem assim para uma melhor compreensão da Bíblia.

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